terça-feira, 7 de dezembro de 2010
Poeminhas - Em homenagem a Mario Quintana
Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!
(Mario Quintana)
Poeminha a favor
Todos esses que aí vão,
Construindo meu caminho,
Eles também passarão.
Eu sempre passarinho!
(Luanna Calasans)
terça-feira, 30 de novembro de 2010
Idéias
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
Sobre o amor II
Mas ela ainda se arrastava pela casa resmungando, graças a um dos indivíduos que ainda não esquecera os momentos iniciais, o silencio estava agora sempre presente, abrindo espaço somente para eventuais brigas, brigas essas que já não ocorriam com vigor de quem protesta, mas sim um pedido de morte a uma situação já irremediável.
Nesse momento as sensações mais perversas corrompem os melhores humanos, que apegados ao seu orgulho, se deixam seduzir pela força, sentindo o desinteresse de seu par, nosso amante ainda apaixonado caiu em desgraça, passando a imaginar sua companheira nas situações mais constrangedoras de traição. Aquela pessoa que antes ele amara, se tornou uma vilã em seu jogo, passou então a sufocá-la diariamente, como nas torturas a afogava em acusações intercalando tais atos com perguntas sem sentido, para ver a mesma confessar os crimes que não cometeu. Esses novos sentimentos sentiam fome, passou a devorar sua companheira, comer sua carne. Logo ela estava encostada em um canto, e já não falava, apenas vagava entre os móveis do quarto com um olhar cada vez mais perdido, para que ela ficasse, ele passou a administrar pequenas doses de veneno, e graças a sua fraqueza, ela nunca saia.
Um dia ao chegar em casa encontrou um corpo frio e estático em sua cama, tocou todas as partes do corpo exposto contemplando cada detalhe, cheirou seu cabelo , beijou seus lábios, penetrou em seu sexo cru, e só nesse momento ele percebeu, que ela já havia partido há muito tempo, chorou recostado no boneco estendido na sua cama, objeto de sua adoração, que um dia lhe forneceu o calor de suas coxas e o conforto do seu colo, e que agora ele destruíra.
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
Mártir
Saio de casa destinada a me livrar dessas antigas idéias e sofrimentos, os rostos que me encontram na rua só demonstram o costumeiro estranhamento ao me fitar, pelo caminho vou deixando minhas roupas, argumentos puramente simbólicos que, outrora, afirmavam algo sobre mim.
Ao chegar à praça olhos curiosos percorrem meu corpo exposto, me censurando, inicio então o processo de me despir de mim mesma. Arranco com violência meus cabelos, sentindo a carne de minha cabeça sair junto aos longos fios, antes tão valiosos, a platéia assiste chocada soltando sons de angústia. Passo então a arrancar ferozmente minha pele, sangrando, nesse momento a platéia transforma-se em uma grande alcatéia, mas ao invés de deferir ataques, aguarda que sua vítima agonizar, possibilitando sua tortura individual. Já posso sentir meus dedos tocarem meus ossos, meu rosto já se encontra desfigurado, não sendo possível apontar o que se vê como belo ou feio, apenas repulsivo.
Arranco então meus seios, símbolo do apoio maternal que não tive e que nego a oferecer em todos aqueles que o procura em mim, por ultimo puxo fortemente meu sexo, que durante toda a vida, e até mesmo antes dela se iniciar, definiu minhas predileções e o que deveria ser minha “identidade”, assisto então o resto de minhas carnes caírem, como se esse corpo percebesse que ele já não me pertence ou me corresponde, sou agora apenas um conjunto de ossos, nos olhos do meu público posso enxergar todo o terror que causa a exposição da fragilidade humana, mas agora já não tenho pudor, rótulos ou humanidade e apenas não me lembro dos significados de tais palavras.
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
Sobre o amor I
O cotidiano nos aproximou e aquela criatura frágil que estava sempre ao meu lado passou a me encantar, começamos a conversar sobre todas as coisas, sentia que possuía um par e queria dividir com ele toda a minha visão do mundo, procurei ensinar o boneco de pano a sentir, apresentei o tato a ele e o prazer que provém desse sentido. Um dia acordei e ao olhá-lo me surpreendi, o boneco de pano se desfazia, seus braços antes recobertos de tecido estava se rasgando aos poucos e já era substituído por uma pele própria humana, e todo o esforço para juntar seus pedaços havia sido recompensado, seu coração voltara a bater.
O tempo passou e os questionamentos aumentaram, fui coberta de dúvidas que iam além de minha capacidade, os momentos que antes eram dedicados a mim se converteram em horas na janela, observando o mundo ao qual inicialmente tinha medo de voltar, não me assustei no dia em que ele resolveu partir, olhei para o espelho e percebi meus lábios costurados em minha face, meus olhos substituídos por botões, minha pele um branco e fino tecido, ele se foi e levou consigo meu corpo, minhas memórias e todo o meu tempo, já não possuía lugar algum para ir, saí vagando pelas ruas a procura de tudo que perdi, meu novo corpo chegou rápido a exaustão, deitei na calçada impressionada com o conforto que aquele lugar contrariamente me fornecia, ali fiquei.
quarta-feira, 29 de setembro de 2010
Tratado sobre a crueldade II – Tudo que está ao nosso alcance
terça-feira, 28 de setembro de 2010
Sobre a crueldade humana - O prazer pela destruição das coisas belas.
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
Imaginava o que ela ouvia, onde morava, o motivo de sua solidão, lia os mesmos títulos que ela e passei a adorá-la com paixão, no rosto antes desconhecido passei a enxergar possibilidades de identificação,lhe atribuí uma personalidade doce como sua voz (a qual jamais ouvi), vicíos de linguagem, pequenas manias e tiques, com o passar do tempo, ela se tornava cada vez mais complexa e completa.
Um dia encontrei minha menina de preto rodeada de pessoas, sorrindo. Suas unhas já não descacavam o esmalte que durante muito tempo me indicava seu humor, ele havia sido substituído por um outro qualquer, seus mistérios haviam sido revelados, ela se tornara uma figura normal, nunca soube o motivo da mudança, provavelmente jamais saberei, na realidade nunca a conheci, descobri que ela era apenas uma idéia.
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
Techo retirado do livro: A garota das laranjas.
Jostein Gaarder
Já contei que toco piano. Não sou um superpianista, mas o primeiro movimento da Sonata ao luar, de Beethoven, eu consigo executar sem errar uma nota. Quando estou sozinho, tocando o primeiro movimento da Sonata ao luar, às vezes me dá a sensação de estar na Lua com um piano de cauda, enquanto a Lua, o piano e eu descrevemos a órbita da Terra. Imagino que os acordes que toco podem ser ouvidos em todo o sistema solar, e, se não chegam até Plutão, certamente se ouvem em Saturno.
Ultimamente, comecei a praticar o segundo movimento (o allegretto). Não é muito fácil, mas eu o acho lindo quando a minha professora de piano toca para mim. Sempre imagino um monte de bonequinhas mecânicas saltitando para cima e para baixo na escada de um shopping!
O terceiro movimento da Sonata ao luar eu não quero ver nem pintado, não só porque é difícil mas também porque acho um horror ser obrigado a escutá-lo. O primeiro movimento (adagio sostenuto) é bonito e talvez um pouco lúgubre, mas o terceiro (presto agitato) é simplesmente ameaçador. Se eu estivesse numa espaçonave e, ao descer num planeta, desse com um pobre extraterrestre martelando ao piano o terceiro movimento da Sonata ao luar, daria o fora no mesmo instante. Em compensação, se o encontrasse executando o primeiro movimento, é bem possível que ficasse uns dias por lá, pelo menos me atreveria a falar com ele e ame informar exatamente sobre a situação do planeta musical no qual aterrissei.
Uma vez eu disse à minha professora de piano que Beethoven tinha em si o céu e o inferno ao mesmo tempo. Ela arregalou os olhos. Disse que eu havia compreendido! E me contou uma coisa interessante, Não foi Beethoven quem deu a essa música o título Sonata ao luar. Ele a chamava de Sonata em dó sustenido maior, opus 27, nº. 2, com o apelido Sonata quasi una fantasia. Minha professora de piano acha essa peça dramática demais para se chamar Sonata ao luar. Diz que o compositor húngaro Eram Liszt descrevia o segundo movimento como "uma flor entre dois abismos". Eu diria que é um divertido teatro de fantoches entre duas tragédias.
Me identifico muito com essa sonata de Beethoven e indico a todos que não a conhece.
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
Quanto mais sinto o tempo passar, menos tenho pressa pelo futuro.
O engraçado é que viver não é uma opção, assim como morrer não é uma opção, tão manca é nossa liberdade que nos é reservado uma cota específica de tempo de vida, desse tempo se subtrairmos de nossa existência a permanência na primeira infância e a velhice não nos sobra quase nada, isso me lembra Mario Quintana, enquanto remo em direção a vida me apegando a beleza dual do mundo, sou do contra.
Poeminha do contra
Mario Quintana
Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!
E então? Já não importa mais.
quarta-feira, 23 de junho de 2010
segunda-feira, 31 de maio de 2010
Se hoje tivesse que definir meu coração o compararia com uma floresta, já que não encontro um melhor termo para definir como me sinto a não ser dizer que estou devastada, vejo o verde que antes pulsava em mim sumir com velocidade, os rios onde meu sangue circulava começam a secar, há indícios de desertificação, após um bom tempo tentando repará-lo, plantando com esperança pequenas mudas, sinto mãos arrancá-las de forma crua, puxando-as pelas raízes até que não sobre sinal de vida. Os argumentos humanos para isso são sempre os mesmos, vocês os conhecem bem.
Esotérico
Doces Bárbaros
Gal e Betânia
Não adianta nem me abandonar
Porque mistério sempre há de pintar por aí
Pessoas até muito mais vão lhe amar
Até muito mais difíceis que eu pra você
Que eu, que dois, que dez, que dez milhões
Todos iguais
Até que nem tanto esotérico assim
Se eu sou algo incompreensível
Meu Deus é mais
Mistério sempre há de pintar por aí
Não adianta nem me abandonar
Nem ficar tão apaixonada, que nada!
Que não sabe nadar
Que morre afogada por mim.
sexta-feira, 28 de maio de 2010
Canção do berço
Carlos Drummond de Andrade
O amor não tem importância.
No tempo de você, criança,
uma simples gota de óleo
povoará o mundo por inoculação,
e o espasmo
(longo demais para ser feliz)
não mais dissolverá as nossas carnes.
Mas também a carne não tem importância.
E doer, gozar, o próprio cântico afinal é indiferente.
Quinhentos mil chineses mortos, trezentos corpos
[de namorados sobre a via férrea
e o trem que passa, como um discurso, irreparável:
tudo acontece, menina,
e não é importante, menina,
e nada fica nos teus olhos.
Também a vida é sem importância.
Os homens não me repetem
nem me prolongo até eles.
A vida é tênue, tênue.
O grito mais alto ainda é suspiro,
os oceanos calaram-se há muito.
Em tua boca, menina,
ficou o gosto do leite?
ficará o gosto de álcool?
Os beijos não são importantes.
No teu tempo nem haverá beijos.
Os lábios serão metálicos,
civil, e mais nada, será o amor
dos indivíduos perdidos na massa
e só uma estrela
guardará o reflexo
do mundo esvaído
(aliás sem importância).
(Poema da obra Sentimento do mundo)
segunda-feira, 10 de maio de 2010
sábado, 8 de maio de 2010
Pedras
Ando por essa paisagem sem admira-lá, apesar das cores que me rodeiam, a dor que sinto faz com que toda a minha apreciação se esgote, na face que anteriormente se estampava um sorriso, uma carranca se contorce de dor, moldando minha boca em gestos involuntários, aqui gritar não é permitido. Sigo minha caminhada caindo por vezes, fato que faz meus joelhos sangrarem, levanto e prossigo caminhando sobre as pontudas pedras, sentido-as atravessarem a carne dos meus pés, sinto vontade de me curvar, de desistir, mas não há essa alternativa, parar significa sangrar ainda mais, a própria gravidade, meu próprio corpo luta contra mim, ao olhar ao redor vejo rostos já irreconhecíveis que se arrastam ao meu lado, alguns tentando evitar a dor, outros expondo claramente seu sofrimento, há ainda os que gritam e são imediatamente apontados e excluídos, dentre os grupos há uma maioria que ultrapassou os limites da dor e prazer fazendo de ambas uma coisa só, esses já se encontram sem sensibilidade e caminham seguindo passos sem sentido.
segunda-feira, 3 de maio de 2010
Medos
Sinto fome, fome de sentimentos, do afeto de um par, mas ao encontrar tal afeto me vejo sem reação, assim como um mendigo que há tanto tempo sem bons tratos não consegue aproveitar um banquete, meu coração ainda não recuperado dos maus tratos passados se encontra sempre temeroso. Com receio do futuro é incapaz de se dedicar aos momentos. Tenho medo de desejar novamente, desejar em vão.
sexta-feira, 23 de abril de 2010
Chuva, caixas e lembranças
terça-feira, 20 de abril de 2010
Blogs
Bem, pretendo fazer desse espaço um pequeno arquivo de pensamentos e das coisas que eu gosto, o twitter já não é suficiente.