segunda-feira, 31 de maio de 2010

 

Se hoje tivesse que definir meu coração o compararia com uma floresta, já que não encontro um melhor termo para definir como me sinto a não ser dizer que estou devastada, vejo o verde que antes pulsava em mim sumir com velocidade, os rios onde meu sangue circulava começam a secar, há indícios de desertificação, após um bom tempo tentando repará-lo, plantando com esperança pequenas mudas, sinto mãos arrancá-las de forma crua, puxando-as pelas raízes até que não sobre sinal de vida. Os argumentos humanos para isso são sempre os mesmos, vocês os conhecem bem.

Esotérico

Doces Bárbaros

Gal e Betânia

Não adianta nem me abandonar

Porque mistério sempre há de pintar por aí

Pessoas até muito mais vão lhe amar

Até muito mais difíceis que eu pra você

Que eu, que dois, que dez, que dez milhões

Todos iguais

Até que nem tanto esotérico assim

Se eu sou algo incompreensível

Meu Deus é mais

Mistério sempre há de pintar por aí

Não adianta nem me abandonar

Nem ficar tão apaixonada, que nada!

Que não sabe nadar

Que morre afogada por mim.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Canção do berço

Carlos Drummond de Andrade

O amor não tem importância.
No tempo de você, criança,
uma simples gota de óleo
povoará o mundo por inoculação,
e o espasmo
(longo demais para ser feliz)
não mais dissolverá as nossas carnes.
Mas também a carne não tem importância.
E doer, gozar, o próprio cântico afinal é indiferente.
Quinhentos mil chineses mortos, trezentos corpos
[de namorados sobre a via férrea
e o trem que passa, como um discurso, irreparável:
tudo acontece, menina,
e não é importante, menina,
e nada fica nos teus olhos.
Também a vida é sem importância.
Os homens não me repetem
nem me prolongo até eles.
A vida é tênue, tênue.
O grito mais alto ainda é suspiro,
os oceanos calaram-se há muito.
Em tua boca, menina,
ficou o gosto do leite?
ficará o gosto de álcool?
Os beijos não são importantes.
No teu tempo nem haverá beijos.
Os lábios serão metálicos,
civil, e mais nada, será o amor
dos indivíduos perdidos na massa
e só uma estrela
guardará o reflexo
do mundo esvaído
(aliás sem importância).

(Poema da obra Sentimento do mundo)

segunda-feira, 10 de maio de 2010

-Você tem um cigarro?
- Estou tentando parar de fumar.
- Eu também. Mas queria uma coisa nas mãos agora.
- Você tem uma coisa nas mãos agora.
- Eu?
- Eu.
(Silêncio)

Trecho extraído do conto “O dia em que Júpiter encontrou Saturno”, de Caio Fernando Abreu.

sábado, 8 de maio de 2010

formspring.me

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Pedras

Ando por essa paisagem sem admira-lá, apesar das cores que me rodeiam, a dor que sinto faz com que toda a minha apreciação se esgote, na face que anteriormente se estampava um sorriso, uma carranca se contorce de dor, moldando minha boca em gestos involuntários, aqui gritar não é permitido. Sigo minha caminhada caindo por vezes, fato que faz meus joelhos sangrarem, levanto e prossigo caminhando sobre as pontudas pedras, sentido-as atravessarem a carne dos meus pés, sinto vontade de me curvar, de desistir, mas não há essa alternativa, parar significa sangrar ainda mais, a própria gravidade, meu próprio corpo luta contra mim, ao olhar ao redor vejo rostos já irreconhecíveis que se arrastam ao meu lado, alguns tentando evitar a dor, outros expondo claramente seu sofrimento, há ainda os que gritam e são imediatamente apontados e excluídos, dentre os grupos há uma maioria que ultrapassou os limites da dor e prazer fazendo de ambas uma coisa só, esses já se encontram sem sensibilidade e caminham seguindo passos sem sentido.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Medos

Sinto fome, fome de sentimentos, do afeto de um par, mas ao encontrar tal afeto me vejo sem reação, assim como um mendigo que há tanto tempo sem bons tratos não consegue aproveitar um banquete, meu coração ainda não recuperado dos maus tratos passados se encontra sempre temeroso. Com receio do futuro é incapaz de se dedicar aos momentos. Tenho medo de desejar novamente, desejar em vão.