quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Quando a vi pela primeira vez ela vestia preto, era a menina de preto, sentada em um banco, sempre lendo algo, sempre sozinha, passei então a observá-la todos os dias, percebi que sempre usava as roupas da mesma cor, suas unhas também estavam sempre pintadas de preto, gostava de notar quando estavam descascando, era a única modificação visível naquele ser que pra mim se tornou um mistério a ser desvendado.

Imaginava o que ela ouvia, onde morava, o motivo de sua solidão, lia os mesmos títulos que ela e passei a adorá-la com paixão, no rosto antes desconhecido passei a enxergar possibilidades de identificação,lhe atribuí uma personalidade doce como sua voz (a qual jamais ouvi), vicíos de linguagem, pequenas manias e tiques, com o passar do tempo, ela se tornava cada vez mais complexa e completa. 

Um dia encontrei minha menina de preto rodeada de pessoas, sorrindo. Suas unhas já não descacavam o esmalte que durante muito tempo me indicava seu humor, ele havia sido substituído por um outro qualquer, seus mistérios haviam sido revelados, ela se tornara uma figura normal, nunca soube o motivo da mudança, provavelmente jamais saberei, na realidade nunca a conheci, descobri que ela era apenas uma idéia.

2 comentários: