terça-feira, 28 de setembro de 2010

Sobre a crueldade humana - O prazer pela destruição das coisas belas.

Ele senta no chão em uma parte gramada de seu quintal, arranca as folhas nas cercas e despedaça delicadas flores amarelas, sua mãe passou meses plantando-as, esperando que elas brotassem, mas para essa figura infantil é muito fácil destruir, sem muito remorso ele continua sua atividade, seu sorriso diante a destruição, desfaz a idéia de fragilidade que poderíamos ter a primeira vista, surge então o primeiro grito, sua mãe exclama seu nome, anda até sua direção e lhe dá palmadinhas nas mãos, enquanto repete: “Não, não, não”.

Após um rápido choro, ele anda até outra parte, encontra no chão uma borboleta que se debate com as patas viradas pra cima, difícil imaginar como ela caiu dessa forma, entretanto, é perceptível que ela ainda vive, sua luta pela sobrevivência é visível e seria comovente para qualquer um de nós (ou não?), o ser cruel se aproxima, a segura por uma pata que imediatamente se desfaz, usa de força sem medida, pausa um momento para avaliar uma forma de segurá-la sem que se despedace imediatamente, isso impediria sua diversão, após tentativas que mais parecem uma tortura consegue, não evita ferir ser tão belo, ao contrário, seus planos são exatamente esses, sua admiração pelas cores não o impede de dilacerar quem as possui, arranca então a primeira asa, a vira em direção do sol e observa os detalhes que aparecem na presença da luz, o que para ele é apenas curioso, algo a ser admirado e que ele necessita possuir é para nossa borboleta fruto de uma série de transformações, que custaram a ela grande parte de seu tempo de vida.

Nesse momento ele percebe, descobre o prazer que advém da destruição das coisas belas, se sente como o agressor que encurralou sua vitima e aproveitando sua fragilidade retira essa beleza do seu corpo, admirar não é o suficiente. A vitima continua a se debater em suas mãos, mesmo sabendo que sua luta está perdida, jamais voaria novamente, chora por todas as tentativas de sobrevivência inúteis e desperdiçadas pela chegada de algo muito superior a ela, seu agressor continua o mesmo processo de dissecação da frágil criatura que para ele nem possui nome, sua mãe mais uma vez o observa, dessa vez sem nenhuma represália, “Ele está brincando com uma borboleta qualquer”. Após ser desmembrada nossa borboleta é imediatamente descartada no meio do jardim, seus encantos estão esgotados, posteriormente seu cadáver será pisoteado por um dos humanos, consumido pelos demais insetos na grama, ou somente esquecido e escondido entre a terra.

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