quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Sobre o amor II

Era noite quando eles se conheceram, através de amigos em comum, partilhavam mesmos interesses, trocaram sorrisos e olhares, dividiram o mesmo copo e o mesmo desejo, que posteriormente se transformou em uma ação e ao amanhecer estavam dividindo a mesma cama. Passaram então a compartilhar seus momentos, longas conversas e uma juvenil paixão, logo caíram nos problemas dos casais, tudo conforme o previsto no roteiro do amor-romântico, sua história seguia, portanto um caminho bem clássico, o estipulado as relações contemporâneas. Mas em um momento a receita de hormônios desandou, e assim como o corpo humano se desgasta com o tempo, a paixão envelheceu, tornando-se uma rancorosa senhora solitária beirando a morte.


Mas ela ainda se arrastava pela casa resmungando, graças a um dos indivíduos que ainda não esquecera os momentos iniciais, o silencio estava agora sempre presente, abrindo espaço somente para eventuais brigas, brigas essas que já não ocorriam com vigor de quem protesta, mas sim um pedido de morte a uma situação já irremediável.

Nesse momento as sensações mais perversas corrompem os melhores humanos, que apegados ao seu orgulho, se deixam seduzir pela força, sentindo o desinteresse de seu par, nosso amante ainda apaixonado caiu em desgraça, passando a imaginar sua companheira nas situações mais constrangedoras de traição. Aquela pessoa que antes ele amara, se tornou uma vilã em seu jogo, passou então a sufocá-la diariamente, como nas torturas a afogava em acusações intercalando tais atos com perguntas sem sentido, para ver a mesma confessar os crimes que não cometeu. Esses novos sentimentos sentiam fome, passou a devorar sua companheira, comer sua carne. Logo ela estava encostada em um canto, e já não falava, apenas vagava entre os móveis do quarto com um olhar cada vez mais perdido, para que ela ficasse, ele passou a administrar pequenas doses de veneno, e graças a sua fraqueza, ela nunca saia.

Um dia ao chegar em casa encontrou um corpo frio e estático em sua cama, tocou todas as partes do corpo exposto contemplando cada detalhe, cheirou seu cabelo , beijou seus lábios, penetrou em seu sexo cru, e só nesse momento ele percebeu, que ela já havia partido há muito tempo, chorou recostado no boneco estendido na sua cama, objeto de sua adoração, que um dia lhe forneceu o calor de suas coxas e o conforto do seu colo, e que agora ele destruíra.

4 comentários:

  1. É só não seguir o roteiro então? Easy doing.

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  2. Cruel, cruel, pequena grande Lua...
    E você realmente escreve muito bem!

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  3. vc escreve muito bem! [3], não fala por um mas por muito do que muitos de nós já sentimos.

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