segunda-feira, 6 de junho de 2011

Encanto

Não há como ignorar sua presença ao entrar no quarto, desvia graciosamente dos móveis enquanto caminha nua em minha direção, senta-se então em uma poltrona que havia em seu caminho, nossa distância é mínima, se esticasse o braço poderia tocá-la, ela me olha, puxa um sorriso no canto do lábio, adia minha espera porque quer, ela se sente poderosa ao ver o meu anseio, como uma grande felina que tortura sua vítima com o prazer da espera.

Observa silenciosa cada detalhe ao seu redor, amarra o cabelo, agora posso ver cada curva de seu pescoço, sua orelha, ainda carrega em sua pele alva marcas avermelhadas, sinais do nosso início de noite. Acende um cigarro, traga, me pergunto por onde anda seu pensamento, por quê eles fogem entre os meus dedos? Como a fumaça que ela espalha pelo quarto.

Há pouco tempo mal sabia seu nome, poderia confundi-la com todas as belas pernas que habitam o mundo, e quantas são, mas agora ao olhar as suas, esticadas em minha poltrona verde, aguardo ansioso pelo próximo entrelaçar de corpos, os próximos sussurros, seus próximos desejos.

Agora estou deitado em minha cama, não consigo desviar o olhar de seu corpo, completamente nu, à mostra, mas pouco ele me diz, saberia mais se suas cicatrizes pudessem me contar as suas dores, se cada tatuagem me contasse a suas histórias, se suas pernas me contassem seus trajetos, se seus braços me contassem suas manias, se sua língua involuntariamente abandonasse o meu sexo e me contasse seus segredos, se sua vagina revelasse as suas vontades, aí sim reconheceria todas as suas curvas, me sentiria em cada centímetro de sua pele, então cada cheiro expelido será meu, cada gemido será por mim.

Um comentário:

  1. Eu fui lendo e imaginando comentários que poderiam ser feitos sobre cada passagem do texto, mas o final conseguiu tirar de mim todas as palavras. Coisa linda de meu Deus.

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